sábado, 30 de agosto de 2008

Earthworm Jim

Primeiro Contato

Isto já fazem muitos anos, mas ainda lembro bem nitidamente. As primeiras impressôes após ligar o meu Mega Drive com o cartucho alugado de Earthworm Jim foram de que alguma coisa estava muito diferente. Acostumado com mascotes bonitinhos e fofinhos em mundos via de regra coloridos, vi-me de repente controlando uma minhoca (e quem já viu o bicho sabe que ele é viscoso e nojento) vestindo roupa espacial e em uma fase que era claramente um lixão. Alliás, o primeiro semi-chefe é feito de sucata, e o chefe da fase um gorducho que tenta ficar vomitando em cima do personagem toda vez que é atingido. Também merece menção especial o momento em que arremesso uma vaca para o espaço para poder prosseguir, e a vejo mais tarde passando pelo céu em várias fases posteriores. Junte a isso tudo uma certa mistura de temas caipira americano com espacial e tinha-se em mãos um jogo com identidade e temática sem dúvida inovadoras, requisitos básicos para qualquer clássico.


Querem ver que vacas voam?


Sucesso Instantâneo

A partir daí, se poderia dizer que outros jogos tentaram copiar o estilo de humor absurdo, embora outro jogo que marcou por esse estilo não pode necessáriamente ser chamado de rival pois, embora tenha sido lançado no mesmo ano que Earthworm Jim, Boogerman foi desenvolvido pela mesma Interplay que criou a minhoca espacial. Assim, o único momento em que os dois podem ser considerados rivais provávelmente foi no jogo Clayfighter 63 1/3, desenvolvido também, claro, pela Interplay, para o Nintendo 64. Nesse jogo, os dois aparecem como personagens jogáveis, podendo assim trocar alguns socos... ou o que cada um costuma usar.

Com o traje espacial, Jim passa a contar com um acervo de armas considerável, ainda que para seu desgosto o traje às vezes parece querer ter participado de um jogo da série Castlevania como um Belmont, ou então querer ter sido Indiana Jones, pois um dos ataques consiste exatamente no traje removendo Jim e utilizando-o como chicote. E para aumentar ainda mais o problema do nosso herói, o jogador acaba utilizando bastante esse ataque, por ser o único que não consome munição.

Aterrissa um novo mascote.



Mas muito bem, o Jim agora não é mais uma minhoca comum, pois possui um traje mecânico que lhe dá braços, pernas e armas. Agora, o que ele tem que fazer com isso? Tão simples quanto a premissa de muitos jogos da época: derrotar o vilão (vilã no caso) e salvar a princesa “What Is Her Name”. Não, este artigo não foi publicado com uma nota de revisão, “What Is Her Name” é o nome da princesa que precisa ser salva. E falando em nomes, esta aí outro ponto usado para reforçar a característica de humor absurdo impregnado no jogo, pois a vilã, irmã gêmea da pobre princesa, chama-se “Evil Queen Pulsating, Bloated, Festering, Sweaty, Pus-filled, Malformed, Slug-for-a-Butt, (Rainha Slug-for-a-Butt para abreviar). As fases também foram batizadas seguindo o mesmo estilo criativo, citando como exemplos “New Junk City”, “More Junk”, “What the Heck?” e “Intestinal Distress”. Tudo isso junto deu ao primeiro Earthworm Jim a capacidade de iniciar uma franquia que teria seus jogos portados para várias plataformas, também uma série animada de TV, além de ter sido o primeiro jogo a receber 100% de nota na Gamemaster Magazine. Nada mal para nossa minhoca que conhecíamos pela primeira vez em Agosto de 1994, cujo primeiro jogo apareceria tambem no Super Nes em Outubro do mesmo ano, uma versão aprimorada no Sega CD em março de 1995, e depois no Game Boy em setembro de 1995, Game Gear e PC no mesmo ano, no Master System em 1996, após uma longa pausa ressurge outra vez no Gameboy Advance em Junho de 2001 e está para voltar ainda outra vez no Virtual Console do Wii. Dizem que grandes jogos nunca morrem mas esse aí parece estar querendo prová-lo de fato.



Uma minhoca invocada.




O Nascimento de Uma Grande Franquia


Outra vez? Mas já?




Aliás, nem com tudo o que está aí em cima a minhoca pôde descansar, pois já no final do ano seguinte (1995) foi lançado Earthworm Jim 2, em que o intrépido herói tem novamente que salvar a princesa – curioso, no final do primeiro jogo ela não tinha... er... nham... deixa para lá. Seguindo os passos do primeiro jogo, após seu lançamento inicial também no Mega Drive, o jogo sairia para outras 5 plataformas até 2002, também estando prometido para o Virtual Console como seu predecessor. Em suma, um clássico capaz de honrar o primeiro, gráças ao mesmo humor absurdo visto em fases como, por exemplo, ISO9000, um planeta atulhado de papéis e documentos, onde arquivos de metal e sujeitos vestidos de executivo ficam perseguindo o herói. Jim havia garantido seu lugar no estrelado dos mascotes, mas infelizmente havistavam-se nuvens negras no horizonte.



O Declínio de Um Herói


Uma nova era e uma nova realidade para os videogames estava se firmando. A era 16 bits estava sendo deixada para trás com toda a sua glória, e se firmava uma nova geração de consoles trazendo um elemento inovador: 3D. A transição para essa nova perspectiva de mascotes acostumados ao mundo achatado do 2D não era uma tarefa fácil, tanto que muitos nem tentaram, e assim enquanto a geração 16 bits era apinhada de mascotes, muitos estrelando bons jogos e outros tantos somente fazendo número, dali para frente vários deles nunca mais mostrariam a cara. Alguns até tentaram fingir que estavam a caminho, como Sonic no jogo Sonic 3D Blast, que na verdade apenas utilizava uma perspectiva isométrica. Earthworm Jim, entretanto, até fez uma tentativa de aterrisar corretamente no 3D, e chegou bem perto de conseguir em 1999 quando foi lançado Earthworm Jim 3D para PC e Nintendo 64. Só? Sim, só, muito aquém do realizado pelos seus predecessores nesse sentido, mas as notícias ruins não parariam aí. O jogo baseia-se na série animada de TV mas, quando foi lançado, essa série já estava fora do ar hà mais de 3 anos. Como jogo em si, ele recebeu uma crítica razoável, no máximo, pela mídia especializada.



Eu joguei bastante a versão de PC e um pouco a de Nintendo 64, e o que posso dizer é o seguinte, com uma mistura de pontos fortes e fracos, acaba se tornando um jogo mediano. Como pontos fortes, começo falando da trama: Jim é atingido por uma vaca voadora que despenca em cima dele (vingança?) e vai parar no hospital. Dentro da mente de Jim, então, o jogador passa a controlar o alter ego, ou melhor, super ego -afinal ele é um super herói – de Jim, encarnado na imagem do personagem em si, que tem que percorrer vários caminhos através das memórias do personagem tentando resgatar a sua sanidade. O humor esta ali de volta, tanto na marcação que diz ao jogador quanto da sanidade já foi recuperada em mensagens como “Você está tão inteligente como: a maioria dos contadores”, quanto nas fases. No início da primeira, em que o alter ego do Jim vai parar numa guerra entre vacas e galinhas, ele lança refrigeradoes ao espaço, que aos poucos vão despencando mais tarde. As fases são bem planejadas, me diverti bastante com elas, e não tive grandes problemas com a câmera ao contrário do que a mídia especializada disse. Agora, o problema, este bem grande, é o chefe de fase. Consiste sempre em derrotar Psy-Crow que vem montado em um tanque de guerra, enquanto voce tem como veículo um porco, e o embate se dará num chiqueiro. Todo este absurdo faz parte do estilo do jogo, tudo bem, mas o problema é que todos os embates de final de fase, até onde fui pelo menos, parecem ser a mesma coisa. Detalhe, voce não vence lutando contra Psy-Crow diretamente, mas tem que vence-lo num tipo de competição para ver quem pega primeiro todas as esferas azuis que estão no chiqueiro. Para piorar, lá pela segunda ou terceira vez, essa competição por esferas fica quase impossível, fazendo do jogo, além de repetitivo, frustrante. Com certeza eu esperaria muito mais de um jogo que levou 3 anos sendo desenvolvido, mas isto possivelmente deveu-se ao fato dele ter mudado de mãos várias vezes nesse período. Sim, isso mesmo, pois enquanto o alter-ego de jim tentava vencer um tanque com um porco e arrumar as coisas no cérebro do herói, no mundo real as coisas não iam bem para os criadores do personagem.


Chato ao extremo isso!



Quando a Casa Cai


Após 1998 - um ano antes da vaca cair esmagando a cabeça de Jim - quando a Interplay abriu seu capital, a mesma informou prejuízo em vários anos consecutivos. Em 2002, o controle da companhia foi tomado por outra, Titus Interactive, o que causaria a partida de Brian Fargo, o fundador original. Infelizmente, a Titus acabou tambem se atolando em problemas e fecharia em 2004, deixando várias dívidas e funcionários sem pagamento. Nesse mesmo ano, a Interplay seria despejada por falta de pagamento, mudando-se para um pequeno escritório em outro lugar, e seu website também fecharia. Isto, mais o fato de que foi brevemente fechada pelo governo da Califórnia devido ao não pagamento de funcionários, levou a acreditar-se que a empresa estava terminada de vez. De fato, ela conseguiu se manter aberta, mas apenas isso, estando num estado bem semelhante ao de seu principal herói na UTI.

Talvez tenha sido devido a tudo isso que outro jogo da franquia, Earthworm Jim: Menace 2 The Galaxy, lançado unicamente para Gameboy Color, passou quase anônimo. Eu mesmo não sabia sobre ele antes de fazer a pesquisa para este artigo. Mas a vida e os videogames continuaram, embora para muitos Earthworm Jim já tinha até saído da UTI do hospital... para ir direto para o necrotério. Essa, felizmente, não é bem a verdade.


Se cuida Jim!


O Retorno

A Interplay conseguiu, nesse tempo, alguns acordos, e considerável sucesso com o jogo online Fallout. Após vender a propriedade intelectual desde jogo para outra companhia, esta usando o dinheiro para se recuperar e seguir com novos projetos, entre eles, sim, Earthworm Jim 4, que está recebendo o apoio do seu criador original, Doug Ten Napel, como consultor criativo. Nosso heroi está vivo, fora da UTI, e se aquecendo para uma nova aventura. Groooove!!!

Sorte ao nosso herói!

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