quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A Saga de Um Golfinho

AVISO: o texto esta cheio de spoils. Se voce nao gosta, nem continue lendo.

Nos tempos áureos do Mega Drive, quando boatos começaram a surgir a respeito de um tal "projeto golfinho", acredito que ninguem imaginaria que o que estava vindo era realmente um jogo onde o protagonista fosse de fato um golfinho. Afinal, na época, reinava o paradigma de que personagens de games tinham que ser capaz de dar socos, usar itens, armas, ou alguma coisa capaz de causar dano às ordas de oponentes caracteristicas de quase todo o jogo de aventura / ação na época. Entretanto, 1992 foi marcado por jogos para esse console que procuravam modificar um pouco conceitos que já estavam ficando gastos de tanto serem usados repetidas vezes, e Ecco The Dolphin, lançado em 1992 para o Sega Genesis / Mega Drive com certeza foi uma feliz contribuição a esse propósito.



O início do jogo provavelmente fará algumas pessoas franzir o cenho e exclamar algo como... "mas que coisa mais infantil". Afinal, na primeira fase, conversando com outros golfinhos, o jogador aprende os conceitos básicos de controle do personagem: nadar, alimentar-se, respirar na superfície de tempos em tempos (acho que todo mundo sabe que golfinho não é peixe, certo?). Parece até um jogo feito só para relaxar, casual mesmo, o que é reforçado pelo fundo sonoro marcado por aquele tipo de música calma e tranquila adequado para aulas de meditação. De fato o jogo de verdade só inicia quando você aceita o desafio de um golfinho de saltar para fora da água o mais alto que você puder, pois enquanto faz isso... barulho... tempestade?... o que é isso sugando todo mundo para o céu?....
Ecco é o único que escapa, só sobrando por ali ele e água. Os outros golfinhos, os peixes, tudo foi sugado para alguma coisa no céu. E aquele fundo musical a la ambient? Foi junto ficando agora um fundo musical dramático que dura até o jogador levar o golfinho para a saída da fase. E a partir daí, começa a saga de um golfinho perdido de seu bando para achá-lo novamente... Não, não ria, isto não é um jogo para crianças não.
Ecco não tem nada de infantil por muitos motivos. Primeiro, foi um projeto levado muito a sério pela Sega, contando inclusive com ajuda de oceanógrafos segundo li na extinta revista Videogame naqueles tempos. Segundo, a história é muito mais complexa do que se imagina. Ela começa simplória assim, mas conforme Ecco conversa com outros seres dos oceanos em sua busca por pistas, a trama vai aumentando em complexidade. Ecco irá interagir com as criaturas mais surpreendentes, encontrará Atlântida, viajará no tempo até a pré história, ganhará superpoderes, e perto do fim do jogo irá até mesmo para o espaço. Aliás, o jogo é longuíssimo, eu levei dias e dias para terminá-lo, usando sempre um caderninho para anotar os passwords conforme avançava pelas fases. E por ultimo, o desafio nao tem nada de infantil, as fases o obrigam a solucionar problemas muito bem planejados, e com um nível de dificuldade que se tornaria outra característica notória do jogo. Dá bastante trabalho conseguir chegar à colméia dos Vortex, uma raça alienígena que perdeu a capacidade de produzir sua própria comida e assim, de tempos em tempos, coletam seres vivos da nossa Terra para se alimentar.



== AS MARÉS DO TEMPO ==



Ecco The Dolphin foi de tal forma um sucesso que, 2 anos depois, a continuação viria. Ecco The Dolphin - The Tides of Time, muitas vezes referenciado apenas como Ecco 2, continua de onde o primeiro jogo encerra. Na abertura, vemos desta vez a rainha Vortex seguindo Ecco de volta para a Terra, onde ela inicia uma nova colméia. A primeira providencia da mesma e destruir Asterite, a criatura mais velha do planeta, que foi quem deu a Ecco os poderes para salvar seu bando no primeiro jogo. Como consequência, Ecco que inicia o jogo com todos esses poderes, os perde logo nas primeiras fases. Não muito depois, ele viaja no tempo outra vez, levado para o futuro por um golfinho dessa época. Lá ele encontra um futuro de paz e beleza para a Terra, onde os golfinhos evoluíram e são agora capazes de voar, ainda que caminhos de água "flutuante" liguem os oceanos da Terra. E encontra Asterite novamente, que esclarece que Ecco, quando salvou seu bando no primeiro jogo, dividiu a linha do tempo em duas, fazendo com que a Terra agora possa ter dois possíveis futuros. Um era esse que ele via agora, já outro é um futuro negro criado pelos Vortex que se instalaram na Terra e a dominaram. "Você é a pedra que dividiu a linha do tempo em duas" - Informa Asterite.
Ao retornar, Ecco precisa salvar todo mundo, desta vez Asterite inclusive, e ainda consertar o curso da história, ainda encontrando tempo para salvar alguns bebês Orca perdidos da mãe pelo caminho.



Outra novidade da jogabilidade está na capacidade de Ecco, em algumas fases, de transformar-se em outras formas de vida, como um dos Tubarões que nao cessam de azucrinar nos dois jogos, uma Água Viva, um Pássaro, e até uma larva Vortex!
Depois de arrumar tudo e dar outra surra na rainha Vortex esta... não morre ainda. Ela volta para o estado larvário e sai de fininho. Opa... uma deixa para mais uma continuação? Bem, não nesta linha do tempo :) Isto porque a rainha segue para Atlântida e lá, usa a máquina do Tempo para escapulir. A máquina só é capaz de transportar para o passado, e chegando na Terra pré história, a rainha encontra criaturas que ela é incapaz de controlar. Assim, com o passar das eras, os Vortex acabam integrando o ecosistema da Terra. Para o que eles evoluiram eu não faço idéia, mas se fosse arriscar um palpite, dada a resistência dos bichos, eu chutaria as baratas! :)
Quanto a Ecco, ele é instruído por Asterite a destruir a máquina do tempo Atlantiana. Mas como um bom menino desobediente, ele faz outra coisa... usa-a, desaparecendo nas marés do tempo. Ah, agora sim, a deixa para a continuação?

= Os Herdeiros =

Dois outros jogos baseados nessa franquia ainda foram lançados, mas nenhum deles continua a história de Ecco.
Ecco Jr., lançado para Mega Drive, constitui-se num jogo voltado para crianças. Imitando a mecânica dos clássicos, mas com nível de dificuldade extremamente facilitado, este jogo é claramente e propositadamente voltado para um público bem infantil, ainda que tenha recebido crítica favorável dentro desse contexto.
Já o Dreamcast receberia um Ecco totalmente remodelado... em tudo. Este jogo reinventa a franquia, criando uma historia totalmente nova e em nada relacionada com o Ecco de 16 bits. O time que fez este jogo também não foi o mesmo dos dois primeiros, mas ainda assim trata-se de um jogo feito com competênci e que traz de volta, agora numa perspectiva 3D, muito do desafio e do charme que marcaram seus antecessores no mundo 2D. Se a Sega tivesse continuado a produtora competente de jogos que foi, independente de ter ficado ou não no ramo de consoles; certamente esta teria sido uma daquelas franquias bem sucedidas na conversão para o universo em 3 dimensões, junto com os nomes mais famosos da Nintendo. Infelizmente, porém, nunca mais se veria outro lançamento com o golfinho da Sega.



E falando em ver o golfinho outra vez, que terá acontecido com aquele da saga original? Para onde foi ao usar a máquina do tempo. Bem, desconfio sériamente que a informação de que a máquina transportava apenas para o passado está equivocada, pois de fato é possivel ver esse golfinho nos dias de hoje, futuro para ele :) Ele nada de novo pelos seus dois jogos no Wii Virtual Console, sendo que o primeiro jogo também esta disponivel no Xbox Live. Ah... e adivinha? Ele foi seguido pelo traquinas do "júnior", pois Ecco Jr. também está disponível no Virtual Console.

2 comentários:

  1. Legal Germano, parabéns pelo texto. Deu até vontade de jogar os outros games da série que eu não conheço.

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  2. Muito bom. Um dia jogarei mais esses jogos... tive poucas oportunidades.

    Ótimo texto! =)

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