quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Splatterhouse




Nas Origens do Horror


“Já fazem três meses desde que você escapou. Assombrado pela culpa e atormentado por pesadelos... pesadelos com os gritos de Jennifer e as tentações infernais da máscara!
Ela não tem que morrer Rick!
Nós podemos salvá-la.
Volte para a casa.
Eu o encontrarei lá.
Somente eu posso lhe dar o poder.
Você precisa de mim.”

(abertura de Splatterhouse 2)




Geralmente, se perguntarmos a alguém qual o título que considera pioneiro no gênero “horror survival”, a maioria provávelmente fará referências a famosa série Resident Evil. Alguns poucos possivelmente lembrarão que a receita utilitizada pela série da Capcom foi primeiro inventada por uma outra, Alone in The Dark, hoje praticamente relegada ao anonimato. Mas pouquissimos serão capazes de recordar que o jogo que é considerado o grande pioneiro desse gênero data da época dos 16 bits. Produzido pela Namco, hoje tão conhecida por Soul Calibur, Splatterhouse foi um beat´em up com atmosfera extremamente macabra, e o primeiro jogo a vir com advertência aos pais, isso 4 anos antes que se ouvisse falar em Mortal Kombat – e tudo graças a um inimigo de fase que consistia numa cruz invertida, o que nos faz pensar como a crítica já foi muito menos concessiva do que é hoje no tocante ao conteúdo de jogos eletrônicos.
Jogos inspirados em temas de horror existem certamente desde muito antes, podendo alguns titulos já serem encontrados para o velho Atari 2600 (Ex: Sexta-Feira 13). Entretanto, com Splatterhouse, a Namco deu um salto significativo nessa área ao nos presentear com um jogo que, aproveitando os recursos da época, trazia pela primeira vez para o videogame uma perfeita interpretação do medonho e do macabro. Criaturas que soltavam gosma, que a cabeça explodia revelando parasitas, fetos endemoniados e toda sorte de criatura disforme e horripilante se opondo entre voce e seu objetivo no jogo que é, primordialmente, conseguir sair vivo dali! E, claro, outra coisa inédita nos jogos da época, sangue jorrando aos borbotões – com direito inclusive, em certo momento, ao efeito de ver-se a tela cobrir-se dele como se o tivessem jogado de dentro do jogo na direcao do jogador, mas o vidro da tela ficou no caminho.

== O pesadelo tem início ===

Propaganda da versão de Turbografx-16 do primeiro jogo


Mas em que tipo de encrenca, afinal, o protagonista do jogo se meteu? Bem, a história do primeiro jogo começa com Rick e Jennifer procurando abrigo de uma tempestade na mansao que dá o tema da maior parte dos ambientes do jogo. Então, ouve-se um ataque de monstros e um grito de Jennifer, e enquanto ela é capturada, Rick é deixado incosnciente. É nesse estado que ele é encontrado pela Máscara do Terror, que se liga a ele. Acordando, Rick descobre a máscara atada ao seu rosto de tal forma que ele não consegue removê-la. Entretanto, esta lhe confere força sobre humana, e ele decide usar tal poder para lutar, resgatar Jennifer, e tentar fugir dali.
Depois da "animação" – supondo que já se possa chamar assim – inicial, outra só será vista no fim do jogo, presumindo é claro que o jogador chegue ali após derrotar hordas consecutivas das mais nojentas criaturas vistas entre os jogos da época; batendo, cortando e atirando em tudo que rastejar, cambalear, ou flutuar na direção do herói. Sim, além dos punhos, Rick contará com vários itens espalhados pelas fases que tornam o massacre das pobres criaturas mais interessante: espingarda, machado de açougueiro, pedaço de pau, e similares. E está aqui descrito o primeiro jogo, lançado nos EUA para arcade em 1988, para PC-Engine/Turbografx-16 em 1990, e para FM Towns (somente Japão) em 1992.

Rick com a mascara vermelha na versao de Splatterhouse 1 do Turbografx 16. Ficou estranho.





== Resgatando Jennifer ==

O final da versão dos arcades do primeiro jogo deixa margem para uma possível continuação e, de fato, em 1992 (mesmo ano em que o primeiro jogo aportava no FM Towns), a Namco lançava para o Sega Genesis (aqui Mega Drive) Splatterhouse 2. Na abertura desse jogo, a Máscara do Terror convoca Rick para retornar a casa e tentar salvar Jennifer. Esse foi o primeiro Splatterhouse que eu conheci, quando aluguei o cartucho, movido principalmente pela curiosidade ao ver o label do mesmo com aquele personagem com uma mascara de caveira e um porrete, cercado de criaturas fantasmagoricas. Falando em máscara, nela está a primeira grande mudança em relação à primeira versão, pois enquanto aqui a máscara era uma caveira, no primeiro jogo parecia-se mais uma máscara de hockey, criando uma semelhança possivelmente proposital com o personagem Jason da séria Sexta Feira 13. Aliás, essa nao seria a única referência a filmes, dado que fases e personagens dos dois jogos parecem ter sido emprestados de hits de horror daquele tempo como Powter Geist, O Massacre da Serra Elétrica, e Uma Noite Alucinante (Evil Dead). Particularmente, eu acho o formato de caveira mais interessante!

A máscara do terror em formato de caveira na versão americana de Splatterhouse 2



Outro ponto que impressiona nesta segunda versão é o fundo musical da abertura: um tom visivelmente macabro, mais que apropriado para um jogo de horror, mas sem ser lento, monótono ou triste. Pelo contrário, a musica dá bem o tom de que o que espera o jogador pela frente vai ser muita ação. E nesta parte o jogo apenas repete a receita do anterior: distribua socos e pontapés, e use cada um dos 9 tipos de itens espalhados pelas fases de forma a distribuir todo tipo de ferimento em qualquer deformidade que se coloque no seu caminho. Neste jogo, depois de alcançado o final, e após os créditos terem sido exibidos, uma rápida animação deixará claramente o gancho para uma possível continuação, que acabaria vindo.

Jennifer está mesmo em sérios apuros!


== Horror Survival antes dos Horror Survivals ==

Se em algum momento foi intenção da Namco fazer uma trilogia, isto muitos anos antes que essas se tornassem moda nos videogames, é impossível saber. Mas fato é que foi o que ela fez, pois Splatterhouse 3, lançado em 1993 e novamente para o Sega Genesis, dá o desfecho da história.

Versão final da máscara em Splatterhouse 3



Neste jogo finalmente sabemos qual o real papel da Máscara do Terror no enredo, e o melhor final não deixa muita margem para novos desenvolvimentos. Sim, isto foi outra inovação que este jogo trouxe muito antes disso se tornar lugar comum, pois numa época em que os jogos tinham que caber em cartuchos com capacidade limitadissima de espaço, qualquer um ter mais de um final era algo extremamente raro. Mas este tem 4 possiveis finais, dependendo se Rick consegue salvar Jennifer e seu filho David, apenas Jennifer, apenas David, ou nenhum dos dois. Outra inovação foi a capacidade de Rick se transformar em Super Rick, uma versão mais truculenta dele com a máscara aparentemente fundida no seu rosto, e capaz de desferir golpes bem mais poderosos, inclusive um extremamente parecido com o ataque mais popular do personagem Zangief da série Street Fighter, em que ele salta com o inimigo e desce colocando o peso sobre a espinha do infeliz.

Rick na sua forma normal



O combate em si está mais enfatizado nesta versão, pois enquanto nas anteriores os oponentes costumavam morrer com o primeiro golpe (exceto chefes de fase), aqui você tem que distribuir muitos socos, tem uma variedade maior de golpes a disposição, e os inimigos podem até ficar atordoados, sangram, mas dificilmente morrem nas primeiras pancadas – imitando asim a mecânica de jogos como Final Fight.

... e Super Rick. Sim, o da esquerda é você, e agora os monstros e que vão ter medo!



A estrutura linear dos jogos anteriores também foi abandonada em prol de uma nova em que você precisa percorrer os cômodos do andar da mansão que forma aquela fase, mas está livre para ir de e para qualquer cômodo que possa alcançar na ordem que lhe aprouver, inclusive indo e voltando pelos mesmos se assim desejar. Para se localizar voce tem um mapa a sua disposição, mas inicialmente muitas portas estão trancadas – me digam se isto não faz pensar em um outro jogo bem conhecido dos tempos atuais? - e para destrancá-las e preciso acabar com todas as abominações daquele cômodo. Apesar dessa estrutura não linear, nao é aconselhável ficar passeando demais pela casa, pois este jogo introduz um contador de tempo a cada fase, e ele será o responsavel por decidir qual final voce vai ver. Se ele zerar antes de terminar a fase, Rick... não sofre nada. Quem vai sofrer será algum membro de sua familia, que ele precisa alcançar o mais rapido que puder – o que na prática significa achar o cômodo onde está o chefe de fase e aniquilá-lo dentro desse limite de tempo.

Alcance Jennifer rápido na primeira fase de Splatterhouse 3 ou...

... a moça vira história.



Outra inovação deste jogo são as cutscenes, outra coisa rara nos jogos da época e mesmo assim aparecendo somente entre fases – mas neste várias aparecem no meio da fase mostrando o que vai acontecer com aquele membro da sua familia se voce nao tratar de correr. Finalmente, saibam que as cutscenes deste jogo foram feitas com atores reais, ainda que no fim elas sejam predominantemente estaticas.

== Desta vez foi o fim?==

Com Splatterhouse, principalmente o terceiro, a Namco criou um jogo muito a frente de seu tempo, e chega a ser lastimável que se passaram duas gerações de gamers sem ver um novo capítulo no que poderia ser hoje uma franquia na área de horror survival capaz de brigar de igual para igual com Silent Hill e Resident Evil. Afinal, qual foi o impedimento? Pois revendo a historia da Namco, embora ela tenha passado por vários altos e baixos como várias outras empresas desse mercado, não é possivel ou ao menos fácil encontrar detalhe envolvendo copyright que a impedisse de lançar um Splatterhouse 4 – ao menos enquanto ela não inventasse de usar novamente a máscara de hockey de Jason. Espaço para pelo menos mais um capítulo certamente existiria, pois embora o terceiro jogo literalmente feche a história, ainda há perguntas a serem respondidas: O que aconteceu na mansão do primeiro jogo? De onde veio a máscara? Ela era realmente uma antiga máscara de sacrifício maia? - o que é sugerido no manual da versão para Turbografx, embora em nenhum momento tal informação fosse dada in-game. Assim, espaço para um "Splatterhouse 0" ou "Splatterhouse Origins" certamente haveria – acuse-me de plágio quem desejar.

Mas tal como nos filmes de terror em que no início apenas sinais discretos de que tem encrenca por perto são vistos, primeiro viu-se a versão de Turbografx-16 reerguer-se de seu túmulo dentro do Wii Virtual Console, sinalizando que a Máscara do Terror podia não estar tão acabada quanto alguém que viu o melhor final de Splatterhouse 3 possa pensar. De fato, não demorou muito para que soubéssemos que um novo Splatterhouse, programado para chegar no Playstation 3 e Xbox 360, está programado para 2009.

Monstros temei! Rick está de volta!

Obviamente, da era 16 bits para cá, muita coisa mudou no mundo gamer. Primeiro, Rick e a máscara terão que fazer bonito na sua migração de plataforma 2D para uma perspectiva em 3D, e é notório que muitas outras franquias famosas dos tempos dos jogos Splatterhouse originais falharam miseravelmente ao tentar. O novo jogo terá um desafio similar ao primeiro no que toca censura, mas piorado porque além da censura dos orgãos oficiais ainda há a pressão das publishers para que um jogo atinja um publico o mais amplo possivel para, claro, maximizar as vendas.

Mas em se tratando da Máscara do Terror, que conseguiu despertar de um sono de morte de 20 anos, eu não duvido que ela achará um jeito. Pois novamente como nos filmes de terror, sinais continuam vindo, como a chegada recente de Splatterhouse 2 ao Virtual Console.




== Curiosidades ==

* Rick aparece sempre como careca quando usando a máscara, entretanto no final de Splatterhouse 2 vê-se que, na verdade, ele possui a cabeça cheia de cabelo. Daí subentende-se que a máscara modifica-lhe as características faciais. E falando em face, em nenhum dos jogos é possível vê-la diretamente, só numa fotografia de família no pior final de Splatterhouse 3. Mistério...

* Embora as cutscenes sejam essencialmente as mesmas, os textos que aparecem nas versões japonesa e americana de Splatterhouse 2 e Splatterhouse 3 muitas vezes diferem significativamente. Eu diria que, por exemplo, na abertura de Splatterhouse 2 da versão japonesa, o texto é bem mais "light", pois nao aparece, por exemplo, o termo "tentações infernais". Isto na tradução para o ingles que aparece junto com o texto em japonês dessa versão. Como não entendo japonês, nao posso garantir que esta seja fiel.

* A caixa de Splatterhouse 2 continha uma mensagem em letras pequenas advertindo que o jogo poderia não ser adequado a menores de 17 anos. Splatterhouse 3 foi classificado como MA-13.
Na versão para Turbografx 16 do primeiro jogo, a máscara teve a cor modificada para vermelho.Busca por uma identidade ou medo da Paramount?

* Novamente na abertura da versão japonesa de Splatterhouse 2, a máscara assemelha-se a uma máscara de kabuki, ao invés de ter a forma de caveira usada na versão americana. O mesmo tipo de máscara é visto na boxart dessa versão.

A máscara do terror estilo "kabuki" na versão japonesa de Splatterhouse 2


Um comentário:

  1. boa materia,splatterhouse é o game mais foda que eu ja joguei,tenho todos emulaveis aqui no pc,quero juntar uma grana pra comprar a versao ps3,que pelo trailer...vai fica foda...veleu!

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